sua "eu" do passado teria orgulho de quem você é hoje?
uma reflexão que mescla memórias passadas com a cinematografia de "Uptown Girls" e musicalidade de "Never Grow Up" de Taylor Swift.
At fourteen, there's just so much you can't do, and you can't wait to move out someday and call your own shots.
Uma vez, desejei voltar no tempo e perguntar para minha “Ayazinha” o que ela acha da mulher que me tornei hoje. Imagino se ela se sentiria decepcionada com o pouco que conquistei aos meus vinte e um anos, ou se ela se sentiria orgulhosa de saber o quanto eu conquistei nessa mesma idade. Parece paradoxal pontuar dessa maneira, mas nessa mesma linha de raciocínio, ouso dizer que não há tantas diferenças entre ela e eu, mesmo nos dias de hoje.
Se eu fosse escrever para ela, diria que, agora, posso dirigir. Que falo inglês fluentemente, como sempre sonhamos desde que assistíamos os clipes legendados MTV na casa da vovó, sonhando poder entender a música sem ler a tradução. Diria também que ganho meu próprio dinheiro, e posso comprar (quase) tudo que nós gostamos — mesmo que não possa gastar todo o meu salário em doces, bonecas da Mattel e livros, o que a deixaria um pouco confusa. Afinal, na cabecinha dela, de que adiantaria o dinheiro se não fosse para gastar em tudo que gostávamos?
To you, everything's funny… you got nothing to regret. I'd give all I have, honey, If you could stay like that.
Eu diria que sinto falta dela. Sinto falta de ser filha única, sinto falta de todos os problemas infantis e pré-adolescentes que pareciam ser o fim do mundo naquela época — e que agora, comparando com os que eu tenho, parecem minúsculos. Eu também iria expor os defeitos dela: como ela era egoísta, mimada e obcecada por controle, mesmo tão nova. Mas, aconselharia que ela não se cobrasse tanto; que ela continuava sendo inteligente, esforçada e adorável.
Avisaria que ela vai enfrentar situações muito piores do que tirar 8 em Matemática no Ensino Fundamental, e que as melhores amigas que ela tinha, agora são apenas minhas conhecidas. E o mais importante: eu imploraria para que ela não desejasse crescer logo, que não desejasse que o tempo passasse mais rápido… que ela pudesse aproveitar mais aquela fase, mesmo entendendo que, com meus vinte e poucos, não era tão simples assim, por problemas que apenas nós duas sabemos — e que causam sequelas em mim, até os dias de hoje.
I don't wanna grow up. Wish I'd never grown up. It could still be simple.
Mas, acima de qualquer coisa, eu a abraçaria muito forte e diria que eu a amo, apesar de tudo. A minha criança teve que passar pelas feridas, dolorosas e abertas, até que eu pudesse conviver com as cicatrizes, como uma jovem adulta. A minha “eu do passado” teve que perder tudo, para que eu pudesse ganhar o que eu tenho hoje. Ela teve que desistir, que se frustrar e que se decepcionar para que “a Aya do futuro” pudesse levar o aprendizado. Ela teve que abrir mão de tudo que conhecia, com garantia de se tornar apenas um pedacinho pequeno meu, guardado e confidenciado dentro de mim mesma.
Não era intenção que os paradoxos dominassem essa reflexão, mas ao mesmo tempo que perdemos, nós ganhamos. Quando nos despedimos do nosso passado, precisamos cumprimentar o futuro. Agora, eu prefiro imaginar que a minha versão passada ficaria feliz em saber que estou estudando cada vez mais, com amigos melhores do que ela já teve e, finalmente, eu prefiro imaginar que aquela menina tem orgulho da mulher que estou me tornando, até que a velhinha “Aya do futuro” venha fazer comigo, o mesmo que eu fiz com a minha criança “Aya do passado”, num ciclo docemente inevitável.
I just realized everything I have is someday gonna be gone.
NOTAS DA AUTORA: Mas, e quanto a vocês? Acham que a sua “eu do passado” ficaria orgulhosa de quem você é? O que diriam para ela, se pudessem? O melhor comentário ganha um pix de 100 reais da ilha mística e imaginária de Speak Now — sejamos gratas pela bendita existência de Taylor Alison Swift, que escreveu “Never Grow Up” e também sejamos gratas por “Uptown Girls” (recomendação gratuita de filme e música, hein?).
Obrigada por chegarem até aqui, feminidivas. ♡ Um beijo na cabeleira, e até a próxima leitura!
O texto é divino, e a música também!! Quando eu estiver com tempo verei o filme. Esses dias estava pensando sobre a Ana de 7 anos e como muita coisa muda em 10 anos, ela achava que entrar na faculdade era fácil, achava que sempre teria suas amigas se comprasse doces pra elas, achava que a aparência não importava e tinha esperanças no amor. Hoje em dia vejo como era bom apenas ficar triste por que minha mãe não me comprou a mochila da Monster High que eu queria. Atualmente a vida não anda como ela esperou, até pq, não estou na Inglaterra estudando culinária e sim no cursinho depois de me frustrar um pouco comigo mesma. Crescer não é ruim, mas também não são 1000 maravilhas como ela imaginou, mas teria orgulho de mim ao perceber que depois de me perder dela, a encontrei novamente, mesmo que apenas 10 anos depois.
mds parece que li uma página do meu diário (principalmente quando chegou na parte do tirar 8 em matemática ahahahhaha). que texto LINDO!!!!